21 de março de 2025
- De 2009 até 2024, apenas o ano de 2022 esteve acima da média histórica do período analisado pelo MapBiomas, que tem início em 1985.
- Trajetória de redução é mais acentuada na última década: 8 dos 10 últimos anos estão entre os mais secos da série histórica.
- Pantanal é o bioma que mais perdeu superfície de água em relação à média histórica: 61%.
O ano de 2024 manteve a tendência de redução da superfície de água já registrada em 2023 e em anos anteriores. Os 17,9 milhões de hectares do território brasileiro cobertos por água em 2024 são 2% menores que os 18,3 milhões computados em 2023 e ficam 4% abaixo da média da série histórica do MapBiomas, iniciada em 1985. A tendência de queda pode ser observada desde 2009. De lá até 2024, apenas um ano – 2022 – registrou aumento da superfície de água. Oito dos 10 anos mais secos de toda a série ocorreram na última década.
Estes e outros números fazem parte da nova coleção de mapas e dados de cobertura do território nacional por superfície de água, atualizada até o final do ano passado, que será lançada nesta sexta (21/03), em evento online, transmitido ao vivo no YouTube através do link.
“A dinâmica de ocupação e uso da terra no Brasil, junto com eventos climáticos extremos, causada pelo aquecimento global, está deixando o Brasil mais seco”, explica Juliano Schirmbeck, coordenador técnico do MapBiomas Água. “Esses dados servem como um alerta sobre a necessidade de estratégias adaptativas de gestão hídrica e políticas públicas que revertam essa tendência”, completa.
Embora detenha 12% da água potável do planeta, o Brasil tem uma distribuição desigual: mais da metade da superfície de água do país (61%) está na Amazônia, onde vivem 29 milhões de brasileiros. Já a Caatinga, que abriga 32 milhões de habitantes, tem menos de 1 milhão de hectares de superfície de água (981 mil, ou 5% do total). Com 2,2 milhões de hectares, a Mata Atlântica tem 13% da superfície de água no Brasil, seguida pelo Pampa (1,8 milhão de hectares, ou 10% do total) e Cerrado (1,6 milhão de hectares, ou 9% do total).
Em 2024, o Pantanal era o bioma com menor superfície de água no país: 366 mil hectares, ou 2% do total. É também o que mais perdeu superfície de água em relação à média histórica: 61%. Em 2024, o Pantanal ficou abaixo da média histórica durante todos os 12 meses. “Desde a última cheia em 2018, o bioma tem enfrentado o aumento de períodos de seca e, em 2024, a seca extrema aumentou a incidência e propagação de incêndios”, ressalta Eduardo Rosa, da equipe do MapBiomas Água.
A Amazônia sofreu uma seca extrema no ano passado, que levou a uma queda de 3,6% em relação à extensão média de água no bioma. Em 2024, a Amazônia apresentou sete meses abaixo da média histórica, de junho a dezembro. Além disso, quase dois terços (63% das 47 sub-bacias) de suas bacias hidrográficas registraram perda de superfície de água em relação à média histórica. Os casos mais graves ocorreram em sub-bacias do Rio Negro, que apresentaram uma redução de mais de 50 mil hectares em comparação à média histórica. A perda de superfície de água na Amazônia em 2024 foi de 4,5 milhões de hectares em relação a 2022, que foi o último ano de ganho de superfície no país. Carlos Souza Jr. aponta que “foram dois anos consecutivos de seca extremas na Amazônia, sendo que, em 2024, a seca chegou mais cedo e afetou bacias que não foram fortemente atingidas em 2023, com a do Tapajós.
Caatinga, Cerrado e Mata Atlântica, por sua vez, estiveram acima da média de superfície de água: 6%, 11% e 5%, respectivamente. No caso da Caatinga, em todos os meses de 2024, os valores de superfície d’água registrados foram os mais altos dos últimos 10 anos. Com isso, a Caatinga encerrou 2024 com 981 mil hectares. “Os resultados do mapeamento da superfície d’água em 2024 indicam a consolidação de um ciclo de cheias na Caatinga, iniciado entre 2018 e 2019. No entanto, apesar desse cenário favorável, persistem áreas com secas recorrentes, especialmente ao longo da bacia do São Francisco e na região do Seridó Nordestino — territórios particularmente vulneráveis à desertificação.”, relata Diêgo Costa, da equipe Caatinga do MapBiomas Água.
No Cerrado, foi possível observar uma inversão entre superfície de corpos de água naturais (rios, lagos e lagoas) e artificiais (reservatórios e represas). Em 1985, 63% da superfície de água do bioma era natural; em 2024, eram 40%. A água armazenada em hidrelétricas, reservatórios, áreas de mineração etc., que os pesquisadores chamam de superfície de água antrópica, passou de 37% em 1985 para 60% em 2024. Ao todo, a superfície de água no Cerrado em 2024 somou 1630 mil hectares.
“A construção de grandes reservatórios para geração de energia e a expansão da agricultura irrigada foram os principais motores de transformação na superfície de água no Cerrado. Regiões como a bacia do Alto Paraguai, onde estão as nascentes do Pantanal, foram criticamente afetadas, assim como o oeste da Bahia, onde se observou redução generalizada na superfície de água”, pontua Joaquim Pereira, pesquisador do IPAM e pesquisador do MapBiomas Água.
Já o Pampa, que encontra-se no extremo sul do Brasil, apesar dos eventos climáticos extremos, com cheias históricas no Rio Grande do Sul, ainda aparece com uma superfície de água de 0,3% abaixo de sua média histórica “Apesar de o Bioma Pampa historicamente apresentar chuvas distribuídas ao longo do ano, é característico na região a ocorrência de estiagens no período de verão. O Pampa teve um início de ano com estiagens, sendo o mês de março o mês mais seco do ano. No mês seguinte, em maio, ocorreu a cheia extrema, atingindo a maior superfície mensal dos 40 anos da série histórica. O bioma sofre com os extremos climáticos, que são apontados como a principal consequência das mudanças climáticas”, explica Juliano Schirmbeck.