Nova coleção de dados do MapBiomas Amazônia mostra que três em cada quatro hectares foram transformados em pastos
Um mapeamento inédito sobre cobertura e uso da terra de 844 milhões de hectares da América do Sul, que correspondem aos 47% do continente por onde se estende a Amazônia e as nascentes de seus principais rios, mostra que a abertura de novas áreas de pasto tem sido o principal vetor de mudanças em florestas e outros ecossistemas. Os dados integram MapBiomas Amazônia – Coleção 5.0, uma série de mapas de cobertura anual e uso da terra na Amazônia produzidos pela Rede Amazônica de Informação Socioambiental Georreferenciada/RAISG com apoio da rede MapBiomas no período entre 1985 e 2022, apresentada online nesta sexta-feira, 8 de dezembro.
A área avaliada vai além da Amazônia Legal brasileira, embora 61,9% do território analisado (521,9 milhões de hectares) fiquem no Brasil. Ela inclui os limites do bioma amazônico na Colômbia e na Venezuela, os limites da bacia amazônica no Equador, Peru e na Bolívia, a soma dos limites das principais bacias hidrográficas que alimentam o bioma (Amazonas e Araguaia-Tocantins) e todo o território continental da Guiana, Guiana Francesa e Suriname, que não pertencem à bacia do rio Amazonas, mas estão cobertos por floresta similar, em forma e composição, ao resto da região.
O levantamento mostra que dos 86 milhões de hectares de vegetação natural eliminados no território analisado, 84 milhões foram convertidos em áreas agropecuárias e de silvicultura, com destaque para pastagem, que ocupa 66,5 milhões de hectares da área devastada entre 1985 e 2022 – ou 77% da área transformada. Áreas para a agricultura, por sua vez, cresceram 19,4 milhões de hectares nos últimos 38 anos. Ao todo, os usos antrópicos da terra na Pan Amazônia em 1985 respondiam por 51 milhões de hectares, ou 6% do bioma. Em 2022, já eram 136 milhões de hectares, ou 16% do total. Isso representa um crescimento de 85 milhões de hectares, ou 169%, no período.
A eliminação da vegetação atinge prioritariamente a floresta: apenas 6 milhões de hectares suprimidos no período eram de formações não florestais. Por isso, embora o levantamento mostre que 81,4% da Amazônia ainda estejam cobertos por vegetação natural, apenas 73,4% são florestas – percentual que já está dentro da faixa estabelecida pela ciência como limite para que a Amazônia se mantenha ou se recupere, evitando o processo de savanização na região.
Paralelamente ao avanço da agropecuária, é possível constatar um potente avanço de atividades minerárias, que cresceram 1367% entre 1985 e 2022, atingindo meio milhão de hectares. Outra mudança notável no período é a retração de 48% dos glaciares na região, decorrente do aquecimento global agravado pelo desmatamento e mudanças nos ecossistemas da Amazônia para a expansão de atividades econômicas.
As imagens de satélite mostram claramente que a conversão de florestas em pastagens e outros usos é mais forte no Brasil – notadamente no Arco do Desmatamento, que vai do Pará ao Acre, passando por Mato Grosso e Rondônia e entrando pelo sul do estado do Amazonas. O mesmo pode ser observado no oeste da Amazônia na Colômbia e Venezuela. Já na Bolívia, a eliminação de florestas e outros ecossistemas abriu uma grande área agrícola no departamento de Santa Cruz, no sul da bacia amazônica. Enquanto em outros países amazônicos, como o Peru, predominam outros padrões de uso, que são constituídos por uma associação heterogênea de áreas agropecuárias.
BOLÍVIA – Na Bolívia, que responde por 8,4% do território amazônico, com 71,2 milhões de hectares, a área coberta por vegetação florestal nativa foi reduzida em 10%, ou 7 milhões de hectares, entre 1985 e 2022. A perda líquida de florestas foi de 5,7 milhões de hectares (11,8%).
BRASIL – No Brasil, que responde por 61,9% do território amazônico, com 521,9 milhões de hectares, a área coberta por vegetação florestal nativa foi reduzida em 14%, ou 71 milhões de hectares, entre 1985 e 2022. A perda líquida de florestas foi de 67,4 milhões de hectares (15,2%).
COLÔMBIA – Na Colômbia, que responde por 6% do território amazônico, com 50,3 milhões de hectares, a área coberta por vegetação florestal nativa foi reduzida em 5%, ou 3 milhões de hectares, entre 1985 e 2022. A perda líquida de florestas foi de 2,7 milhões de hectares (5,9%).
EQUADOR – No Equador, que responde por 1,6% do território amazônico, com 13,1 milhões de hectares, a área coberta por vegetação florestal nativa foi reduzida em 5%, ou 600 mil hectares, entre 1985 e 2022. A perda líquida de florestas foi de 600 mil hectares (5,4%).
GUIANA – Na Guiana, que responde por 2,5% do território amazônico, com 21 milhões de hectares, a área coberta por vegetação florestal nativa foi reduzida em 0,3%, ou 700 mil hectares, entre 1985 e 2022. A perda líquida de florestas foi de 300 mil hectares (0,1%).
GUIANA FRANCESA – Na Guiana Francesa, que responde por 1% do território amazônico, com 8,4 milhões de hectares, a área coberta por vegetação florestal nativa foi reduzida em 0,6%, ou 500 mil hectares, entre 1985 e 2022. A perda líquida de florestas foi de 100 mil hectares (0,7%).
PERU – No Peru, que responde por 11,4% do território amazônico, com 96,3 milhões de hectares, a área coberta por vegetação florestal nativa foi reduzida em 4%, ou 3,6 milhões de hectares, entre 1985 e 2022. A perda líquida de florestas foi de 2,8 milhões de hectares (3,8%).
SURINAME – Em Suriname, que responde por 1,7% do território amazônico, com 14,6 milhões de hectares, a área coberta por vegetação florestal nativa foi reduzida em 1%, ou 100 mil hectares, entre 1985 e 2022. A perda líquida de florestas foi de 100 mil hectares (0,7%).
VENEZUELA – Na Venezuela, que responde por 5,6% do território amazônico, com 46,9 milhões de hectares, a área coberta por vegetação florestal nativa foi reduzida em 1%, ou 500 mil hectares, entre 1985 e 2022. A perda líquida de florestas foi de 600 mil hectares (1,5%).
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