9% de toda a vegetação nativa do Brasil corresponde à vegetação herbácea e arbustiva. A perda dessa vegetação no Brasil, desde 1985, chegou a 9,6 milhões de hectares
O Brasil perdeu 9,6 milhões de hectares dessa vegetação herbácea e arbustiva entre 1985 e 2022, segundo um levantamento inédito do MapBiomas sobre a cobertura vegetal não florestal do país – uma vegetação constituída por plantas de porte pequeno e sem estrutura lenhosa (gramíneas e ervas), ou com tronco lenhoso fino (arbustos). Esse tipo de vegetação está presente em todos os biomas brasileiros sob diferentes formas: formações campestres, campos alagados e áreas pantanosas e afloramentos rochosos. Juntas, elas ocupam 50,6 milhões de hectares, ou 1,4 vezes mais do que o território da Alemanha, e assim como as florestas, estão sendo rapidamente destruídas.
O mapeamento feito pelo MapBiomas revela que em 2022, a vegetação nativa ocupa 64% do território brasileiro. Desse total, a maior parte corresponde às florestas (58%) e uma fração menor do território é ocupada por vegetação não florestal (6%), também denominada de vegetação herbácea e arbustiva. “Esta vegetação não florestal, embora minoritária e pouco valorizada, é muito importante pela grande diversidade de espécies de plantas e animais que abriga e pelos serviços ecossistêmicos prestados”, destaca Eduardo Vélez, da equipe do bioma Pampa do MapBiomas.
“Nos últimos 38 anos, o Brasil perdeu 16% de sua vegetação natural não florestal, proporção semelhante a da perda de cobertura florestal, de 15%”, explica Júlia Shimbo, coordenadora científica do MapBiomas. “Em termos absolutos, o Cerrado lidera o desmatamento de vegetação herbácea e arbustiva, com 2,9 milhões de hectares suprimidos. Já o Pampa, um bioma bem menor, teve um desmatamento bem próximo em números absolutos: foram 2,85 milhões de hectares entre 1985 e 2022. Mas em termos proporcionais, isso representou a impressionante cifra de 30% de perda da vegetação em relação ao que havia em 1985”, destaca.
>> Acesse os principais destaques da vegetação não florestal no Brasil (1985-2022)
Os diferentes tipos de cobertura vegetal não florestal que cobrem esses 6% do território nacional são a vegetação predominante no Pantanal e no Pampa. As formações campestres e os campos alagados e áreas pantanosas são os tipos de vegetação herbácea e arbustiva mais abundantes no Brasil, respondendo por 95% do total. Dois terços disso (66%) são de formação campestre, que ocupa 33,5 milhões de hectares. Quase a metade desse total (49%) está na Amazônia (26%) e no Cerrado (23%), com 8,8 e 7,8 milhões de hectares, respectivamente. Pantanal (6,2 milhões de hectares) e Pampa (6 milhões de hectares) respondem por 18% cada um. Desde 1985, o Brasil perdeu 6,7 milhões de hectares desse tipo de cobertura. Quarenta e três por cento desse total (2,9 milhões de hectares) foram suprimidos no Pampa. “No caso da Mata Atlântica, a perda de 559 mil hectares, ou 24% de vegetação campestre, ocorreu principalmente nos campos de altitude na divisa de Santa Catarina e Rio Grande do Sul, que foram convertidos para áreas agrícolas e silvicultura: 335 mil hectares e 171 mil hectares, respectivamente”, complementa Marcos Rosa, coordenador técnico do MapBiomas.
A segunda classe de vegetação herbácea e arbustiva de maior expressão no país é a de campo alagado e área pantanosa, onde predominam as plantas adaptadas ao alagamento permanente ou temporário. Esta classe ocupa 2% do território brasileiro, com 14,6 milhões de hectares. Desse total, 83% se concentram na Amazônia (41%) e no Cerrado (42%), com 6,1 milhões de hectares cada. No Pantanal, onde ocupam 8% do território, remontam a 1,2 milhão de hectares. Esse tipo de cobertura vegetal perdeu 13% de área nos últimos 38 anos, ou 2,1 milhões de hectares. Mais da metade dessa perda (71%) se deu na Amazônia, que perdeu 20% das suas áreas úmidas em 38 anos, cerca de 1,5 milhão de hectares. “A região de campinarana, entre Roraima e o Amazonas, os campos úmidos no Marajó e a região norte do Maranhão foram as áreas mais afetadas” destaca Luis Augusto Oliveira Jr da equipe da Amazônia do MapBiomas.
No Pantanal as áreas vegetação não florestal representam 61% das áreas naturais no bioma.“Anualmente, e de acordo com o pulso de inundação na planície, observa-se uma notável transição entre diferentes classes de vegetação herbácea e arbustiva, onde os campos alagados e áreas pantanosas e a água, alagam ou expõem áreas de campos naturais. A conversão dessas áreas naturais em pastagem exótica, nos últimos 38 anos, soma mais de 700 mil hectares”, destaca Eduardo Rosa, coordenador da equipe do Pantanal no MapBiomas.
Os estados com maior proporção de vegetação herbácea e arbustiva são o Rio Grande do Sul (26% do território), Roraima (20%) e Amapá (14%). Os que mais perderam vegetação não florestal desde 1985 foram o Rio Grande do Sul (3,3 milhões de hectares) e Mato Grosso (1,4 milhão de hectares).
As áreas privadas apresentam 61% da vegetação herbácea e arbustiva do Brasil, cerca de 30 milhões de hectares. Do total de remanescentes de vegetação herbácea e arbustiva em 2022 no país, 20% encontra-se em áreas protegidas, a maior parte na Amazônia. Porém, o grau de proteção em biomas tipicamente não florestais como o Pantanal e o Pampa ainda é baixo (4,1% e 1% do bioma, respectivamente).