01 de setembro de 2025
Evento em Brasília, com participação de mais de 360 pessoas, celebrou os 10 anos da rede e a ciência aberta; mapas mostram 4 décadas de transformações profundas no território brasileiro
A Coleção 10 de mapas anuais de cobertura e uso da terra do MapBiomas foi lançada em Brasília, no dia 13 de agosto, no 10o Seminário Anual do MapBiomas. Abrangendo o período de 1985 a 2024, os dados mostram 40 anos de transformações profundas no território brasileiro, com perdas de áreas naturais e expansão da agropecuária. Entre as novidades da coleção está o mapeamento de usinas fotovoltaicas, que se concentram principalmente na Caatinga.
O seminário também celebrou os dez anos da criação da rede e foi marcado por momentos de resgate da história do MapBiomas. Um painel com uma linha do tempo com os principais marcos da rede foi montado na área de recepção do local do evento, no Centro de Convenções Ulysses Guimarães. O lançamento teve a presença de mais de 360 pessoas, além de transmissão pelo YouTube, que alcançou pico de mais de 200 visualizações simultâneas.
Houve, ainda, a apresentação da nova plataforma do MapBiomas, com funcionalidades e uso de inteligência artificial que tornam a experiência do usuário mais rápida e fácil. A equipe do MapBiomas e parceiros também abordaram as novidades que estão sendo preparadas para os próximos meses.
Foram realizados debates, com especialistas de organizações parceiras e abertura de Ana Toni, CEO da COP 30, sobre a relação entre o uso da terra e a agenda climática.
Ao final, o fotógrafo Luciano Candisani apresentou projeto realizado no Pantanal, em uma palestra que inspirou reflexões sobre a relação entre natureza e sociedade.
Veja como foi o lançamento aqui.
Abertura: o que significou a criação do MapBiomas
A abertura do seminário abordou a importância de uma iniciativa como o MapBiomas, feita com base em ciência aberta e colaborativa. Tasso Azevedo, coordenador geral da rede, conduziu a sessão. Paulo Artaxo, professor de física da Universidade de São Paulo, ressaltou a contribuição da rede para a academia.
“Com o MapBiomas, o cientista conta com uma ferramenta gratuita que permite a ele fazer ciência usando só o laptop e contribuir, por exemplo, com projetos de conservação ambiental”, afirmou Artaxo, que também é membro do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC). “O MapBiomas se tornará ainda mais importante devido aos desafios que o Brasil terá de zerar emissões e estruturar políticas públicas consistentes com base em ferramentas científicas consolidadas”, concluiu.
Para Andreas Dahl Jorgensen, diretor da Iniciativa Internacional da Noruega para Clima e Florestas (NICFI), que apoiou a criação do MapBiomas, a rede foi, desde o início, “uma ideia ousada”. Destacou a forma de atuação do MapBiomas, feita de forma aberta, envolvendo sociedade civil, governos e setor privado, sempre olhando oportunidades e tecnologias. “Sem dúvida, uma das iniciativas mais impactantes em que já investimos nos últimos 16 anos”, afirmou.
Também participou da abertura Débora Passos, diretora de Estratégia e Governança do Instituto Arapyaú, organização que abrigou a estrutura administrativa e financeira do MapBiomas antes da criação do Instituto de Apoio ao MapBiomas (IAMAP).
“O formato do MapBiomas reforça algo em que o Arapyaú acredita, de que ninguém faz nada sozinho. Se de fato queremos transformações, precisamos fazer isso coletivamente, pensar juntos e co-construir.”
40 anos de transformações profundas no território
A primeira sessão do seminário abordou métodos e destaques da Coleção 10, que mostram profundas transformações ocorridas nas últimas quatro décadas no país, com perdas de áreas naturais e expansão da agropecuária. Confira alguns deles:
- De 1985 a 2024, o Brasil perdeu, em média, 2,9 milhões de hectares de áreas naturais por ano, totalizando uma redução de 111,7 milhões de hectares nesse período.
- A Formação Florestal foi o tipo de cobertura nativa que mais perdeu área: uma redução de 62,8 milhões de hectares (-15%).
- Pastagem e agricultura foram os usos da terra que mais se expandiram. A área de pastagem cresceu 62,7 milhões de hectares (+68%) e a de agricultura, 44 milhões de hectares (+236%).
- Em 1985, 420 municípios tinham predomínio de agricultura; em 2024, esse número saltou para 1.037.
- Áreas alagáveis abrangiam 84 milhões de hectares, ou quase 10% do território nacional, em 1985; em 2024, eram 74 milhões de hectares (8,8% do Brasil).
- O crescimento de áreas ocupadas por usinas fotovoltaicas se deu a partir de 2016, com 822 hectares; em 2024, essa área já era de 35,3 mil hectares.
Veja mais destaques da Coleção 10 aqui.
Também foram apontadas as principais novidades da coleção: a nova classe de usina fotovoltaica; mapeamento de aquicultura em estados brasileiros que não estão na costa; melhorias na classe de recifes costeiros e rasos; aprimoramento da classe “outras áreas não vegetadas” na Amazônia; inclusão da restinga herbácea na Caatinga; e revisão do conceito de afloramento rochoso e a inclusão dessa classe para o Pantanal.
Ainda na mesma sessão, Claudio Padua, cofundador do Instituto de Pesquisas Ecológicas (IPÊ), e Marcelo Maranhão, assessor técnico da Diretoria de Geociências do IGBE, falaram de suas experiências em entender as transformações nos territórios e o papel do MapBiomas.
Padua explicou a atuação do IPÊ na região de Pontal do Paranapanema, no oeste do estado de São Paulo, onde promove restauração ecológica aliada ao programa de conservação do mico-leão-preto. Os dados do MapBiomas ajudam no mapeamento e planejamento de uma paisagem sustentável.
Já Maranhão abordou o trabalho de cartografia realizado no passado pelo IBGE, que foram importantes para conhecer o território brasileiro. Agora, o instituto está buscando a integração das bases disponíveis e usa uma camada de dados do MapBiomas nessa iniciativa.
Nova plataforma traz mais facilidades para usuário
A nova plataforma de dados e mapas do MapBiomas foi apresentada na segunda sessão do dia por Sergio Oliveira, da Ecostage. A navegação na plataforma, antes feita por filtros, passa a ser espacial, e os mapas poderão ser visualizados também em 3D.
Além disso, foi incorporada uma nova ferramenta, chamada de “Crie sua análise”, onde o usuário conta com a ajuda de inteligência artificial para gerar seus próprios mapas.
O desenvolvimento da nova plataforma levou quase um ano e envolveu diversas instituições parceiras, como a GeoKarten e ArcPlan. Encontros presenciais com especialistas de todo o país foram organizados para poder trazer funcionalidades e inovação.
Relação entre uso da terra e agenda climática
Ana Toni, CEO da COP 30, fez a abertura da sessão dedicada a discutir a relação entre uso da terra e as mudanças climáticas. A conferência em Belém terá debates intensos sobre a relação entre clima e natureza, assim como sobre adaptação, e, principalmente, foco na implementação, afirmou.
“O grande diferencial que esperamos trazer é o tema das soluções. Sabemos que são muitas, para os desafios de combate ao desmatamento ou triplicar renováveis. Por que não estão sendo implementadas em escala?”
Ane Alencar, diretora de Ciência do Ipam e coordenadora do MapBiomas, conduziu os painéis da sessão e lembrou a importância de dados e mapas na agenda climática.
“O uso da terra vai estar muito presente na COP 30, assim como a questão da justiça climática. Não tem como fazer essa discussão sem mapas; estes são fundamentais para ajudar nesse processo”, sublinhou.
Membros da equipe do MapBiomas e representantes de diferentes organizações –Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Iclei – Governos Locais pela Sustentabilidade, Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec), Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden) e Observatório do Clima – aprofundaram esse debate, focando em temas de degradação, agropecuária, desastres climáticos e água, desafios urbanos e políticas públicas.
Uso dos dados na prática
A última sessão teve como protagonistas os parceiros institucionais da rede MapBiomas, que mostraram a relevância da ciência aberta e comunicação de dados em gerar impactos. Representantes do ICMBio, da Embrapa, do Banco do Brasil, de O Boticário, da Acelen e da Ambiental Mídia explicaram seus projetos e ações que promovem impactos positivos, e o papel dos dados do MapBiomas nessas iniciativas.
As possibilidades e ideias para novos projetos usando os dados do MapBiomas, alguns deles já em andamento, foram apresentadas por membros da equipe MapBiomas e parceiros. Entre as ideias estão mapeamento de milho de segunda safra e de voçorocas e a criação de um monitor da degradação. O público presente ao evento também pode dar sugestões.
A última parte do seminário foi a apresentação de Luciano Candisani, que exibiu algumas imagens do seu projeto Terra D’Água. O fotógrafo explicou que um dos objetivos do trabalho foi entender o que significa o elemento água na planície pantaneira, e trazer uma identidade visual para as águas formadoras do bioma. Candisani também afirmou que as narrativas fotográficas podem contribuir para conectar as pessoas com a dramaticidade mostrada pelos dados apresentados nos mapas do MapBiomas, que apontam como a superfície do bioma está secando.
O 10º Seminário Anual do MapBiomas terminou com homenagens e agradecimentos a membros da equipe e um coquetel de encerramento.
Assista à íntegra do evento aqui.