Acesse os principais destaques da Coleção 7 sobre a Zona Costeira no Brasil
Com 7491 quilômetros, a costa brasileira coloca nosso país entre os 20 países com maior litoral no mundo. Com o auxílio de imagens de satélite e recursos de inteligência artificial, o MapBiomas fez um raio-X desse território, que engloba praias, dunas, manguezais, apincus e áreas de aquicultura e salicultura. Também foram mapeados municípios no interior do Brasil com grandes areais. Os números mostram uma relativa estabilidade nessas formações naturais, com alguns ganhos em manguezais e a mesma tendência de perda de praias e dunas.
A boa notícia vem dos manguezais, que se estendem por toda a costa brasileira do Amapá até Santa Catarina. Entre 1985 e 2021, sua área total expandiu-se 4%, passando de 970 mil hectares para mais de um milhão de hectares (1.011 Mha). Três estados da região norte – Amapá, Pará e Maranhão – respondem por 80% da cobertura de manguezais do país e sua configuração explica esse bom resultado. Os manguezais do norte crescem sob um regime de macromaré, cujo nível de água tem variação diária superior a 4 metros, e desenvolvem-se sobre uma planície de lama que chega a medir 30 km de largura, ocupada por árvores de até 30 m de altura, afirma Pedro Walfir, da equipe de mapeamento da zona costeira do MapBiomas. Esse tipo de cobertura natural torna este ecossistema naturalmente resiliente às mudanças antrópicas.
O mangue é berçário de inúmeras espécies marinhas: 70 a 80% dos peixes, crustáceos e moluscos que a população consome precisam desse bioma em alguma fase de suas vidas. Diversas espécies de peixes economicamente importantes utilizam os mangues como área de reprodução e depois voltam para o mar. Os manguezais também são importantes para proteger a costa da erosão marinha.
Entre as formações naturais sobre as quais o mangue se expande estão os apicuns – superfícies dinâmicas, hipersalinas e associadas ao regime de marés. Entre 1985 e 2021, os apicuns passaram de 57 mil para 54 mil hectares de área no Brasil. O Maranhão concentra aproximadamente 60% da superfície de apicuns do país.
A maior parte de sua área (70%) encontra-se dentro de alguma das 340 Unidades de Conservação da Zona Costeira Brasileira. Apesar disso, entre 1985 e 2021, 1,3 mil hectares de apicuns foram convertidos para atividades de aquacultura que, junto com os 531 hectares perdidos para infraestruturas urbanas, representa o principal risco para este tipo de formação natural. “Apicuns, assim como os manguezais, são localmente dinâmicos, intercalando perdas e ganhos de magnitude aproximadas ao longo da série temporal. São processos de transformação natural”, explica César Diniz, da equipe de mapeamento de zona costeira do MapBiomas. “Porém quando há a conversão para infraestrutura urbana ou aquacultura, essa dinâmica é interrompida: não há volta para a formação original”, completa.
A aquicultura foi a ocupação da zona costeira brasileira que mais cresceu nos últimos 37 anos: ela teve um aumento de 36% entre 1985 e 2021, passando de 36 mil hectares para 56 mil hectares no país. A atividade expandiu-se principalmente sobre superfícies de água (28%), mosaico de agricultura ou pastagem (25%) e formação savânica (14%), com nítida preferência por regiões não vegetadas, como apicuns ou, quando vegetadas, de porte arbustivo. Dois estados (Rio Grande do Norte, com 67%, e Ceará, com 15,4% concentram 82% da área de salicultura / aquicultura no Brasil. Mossoró, no Rio Grande do Norte, possui a maior área de aquicultura/salicultura no país: aproximadamente 11 mil hectares – o dobro da área urbanizada do município.
Praias, dunas e areais perdem 15% de área
O cenário de praias e dunas arenosas sem cobertura vegetal é distinto: com 47% de sua área está em unidades de conservação, as quais minguaram de 457 mil hectares, em 1985, para 389 mil hectares em 2021 – uma retração de 15%. Entre os vetores que levaram a essa perda de 68 mil hectares está a pressão do mercado imobiliário e o consequente avanço de infraestruturas urbanas (11%), a silvicultura (7,4%), as pastagens e mosaicos de agricultura e pecuária (10%).
“Essa perda é preocupante porque praias e dunas têm papel estratégico no controle da erosão costeira e preservação da biodiversidade”, explica César. “A praia e a duna normalmente protegem os manguezais das ações das ondas, criando um ambiente calmo, onde a lama pode ser depositada e colonizada pela vegetação de mangue”, detalha.
Os Lençóis Maranhenses e o Cordão Dunar do Rio Grande do Sul são as duas feições arenosas contíguas de maior extensão no Brasil. Juntos, eles respondem por 51% da extensão de praias e dunas do país. Porém não há areais e dunas apenas no litoral: segundo o MapBiomas, dos 10 municípios com maior extensão desse tipo de cobertura, dois ficam no interior do país – Pilão Arcado e Xique-Xique, ambos na Bahia. O município líder é Barreirinhas, no Maranhão.