Área dedicada à agricultura expandiu quase 1,8 milhão de hectares entre 1985 e 2023; bioma tem áreas fragilizadas que podem sofrer desertificação
28 de junho de 2025
A Caatinga perdeu 14,4%, ou 8,6 milhões de hectares, de sua cobertura vegetal nativa entre 1985 e 2023. O que restou representa 59,6% do bioma, ou 51,4 milhões de hectares. Outros 32,9 milhões de hectares (38,2% do bioma), são áreas antrópicas (ou seja, que tiveram algum tipo de intervenção humana e foram convertidas, ou estão em transição, para outros usos e fins). Em quase
quatro décadas, a área dedicada à agricultura expandiu 1,8 milhão de hectares. Essas e outras informações estão reunidas em um novo factsheet sobre a Caatinga, que consolida os principais dados, analisados e validados pelo MapBiomas, sobre como a superfície do bioma foi sendo transformada ao longo de 39 anos.
Os dados do factsheet foram apresentados no seminário “Restaurar a terra. Criar oportunidades”, realizado em 16 e 17 de junho, em Campina Grande (PB), pelo Instituto Nacional do Semiárido (Insa), do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI). O evento foi promovido em alusão ao Dia Mundial de Combate à Desertificação e à Seca (17 de junho). Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), a desertificação é um fenômeno em que o solo de áreas áridas, semiáridas e subúmidas secas se degrada a tal ponto que perde a capacidade de se regenerar, comprometendo
os sistemas produtivos, serviços ambientais e a conservação da biodiversidade.
Grande parte da Caatinga, por suas características climáticas, é uma área suscetível à desertificação, lembra Washington Rocha, coordenador da equipe Caatinga do MapBiomas, que apresentou o factsheet no seminário. “As condições para desertificação ocorrem devido ao manejo inadequado de uso da terra”, afirma. “Os dados mostram que há fragilidade ocorrendo. Toda a
borda oeste do bioma, está com sinais de degradação, com perda de vegetação nativa.”
Além disso, os sistemas de monitoramento do MapBiomas mostram aumento de incêndios e alertas de desmatamento nessa região. Nos últimos dois anos, as queimadas diminuíram 25%, mas ainda se encontram acima da média, com 668.482 hectares atingidos pelo fogo. “Os dados chamam atenção para a necessidade de se tomar cuidado, porque essa área pode estar se degradando
muito”, alerta o professor.
Confira as principais informações do factsheet
A Caatinga ocupa 10% do território nacional e é o único bioma que fica totalmente dentro do país. Dez estados têm parte de seus territórios localizados
dentro do bioma: Bahia, Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Sergipe, Maranhão e Minas Gerais. Todos os estados registraram redução da vegetação nativa no período analisado, e 45,1% dos municípios da região tiveram perdas superiores a 5% em sua vegetação nativa.
Dentre as oito classes ou tipos de cobertura na Caatinga definidas pelo MapBiomas, a formação savânica foi a que mais perdeu área – 15%, ou 8,3
milhões de hectares – em 39 anos. A agricultura foi o uso da terra que, proporcionalmente, mais expandiu no período analisado pelo MapBiomas. De 1985 a 2023, o aumento foi de 1.557%,
ou 1,8 milhão de hectares. Eram 115 mil hectares ocupados pela atividade em 1985 e, em 2023, chegou a 1,9 milhão de hectares.
Já em termos de área, as pastagens foram as que mais aumentaram: 12,1 milhões de hectares, uma expansão de 112% entre 1985 e 2023, passando de
10,8 milhões de hectares para 22,9 milhões de hectares. Hoje, as pastagens ocupam 26,6% das áreas antropizadas da Caatinga. Em 2023, 67,4% da supressão de vegetação nativa no bioma aconteceu em
áreas de vegetação primária, ou seja, aquelas que nunca haviam sido desmatadas antes. Apenas 9% da Caatinga está protegida por Unidades de Conservação,
totalizando 7,8 milhões de hectares. Em relação aos recursos hídricos, 1,1% da Caatinga está coberta por água, 6% acima da média histórica.
Dados aprimorados ano a ano
Anualmente, os dados sobre a Caatinga são revisados em sua totalidade, de 1985 até o ano mais recente – neste caso, 2023 –, sempre no sentido de melhorar a qualidade e a acurácia dos dados. A última coleção de dados e mapas apresenta estabilidade, pois foi possível reduzir a influência da sazonalidade da Caatinga, que influi bastante nas imagens de satélite do bioma.
“Em anos normais, a Caatinga é marcada por seca na maior parte do ano, com três ou quatro meses de chuva. À medida que o período seco vai se instalando e a água se torna escassa, a vegetação natural desfolha para evitar perder umidade. Para o sensoriamento remoto, isso é um complicador, porque a vegetação desfolhada é identificada como área desmatada”, explica o professor Washington. “Por isso, havia flutuação maior nos dados nas primeiras coleções. Ao longo dos anos, porém, foram criadas formas de corrigir esse aspecto, por meio, principalmente, de melhorias na amostragem e outras técnicas de processamento de imagens, e agora a análise encontra-se estabilizada”.