16 de junho de 2025

Evento, realizado no dia 15 de maio de 2025 na sede do Ibama, em Brasília, reuniu representantes do governo, de empresas e de organizações da sociedade civil

A redução do desmatamento em todos os biomas brasileiros em 2024 e a importância de se ter dados transparentes e de qualidade para tomadas de decisão foram destaque no lançamento do Relatório Anual do Desmatamento no Brasil de 2024 (RAD2024), realizado na sede do Ibama, em Brasília, no dia 15 de maio. 


O evento teve a participação presencial de 140 pessoas, entre representantes de governos e órgãos públicos, academia, empresas e organizações da sociedade civil, com apresentações sobre as principais informações do relatório e painel de debate sobre a lei antidesmatamento da União Europeia (EUDR). O lançamento contou, ainda, com transmissão on-line.

A mesa de abertura do lançamento do RAD2024 teve a participação de Jair Schmidt, diretor de Proteção Ambiental do Ibama; André Lima, secretário extraordinário de Controle do Desmatamento e Ordenamento Ambiental Territorial do Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA); Fernando Sampaio, cofacilitador da Coalizão Brasil Clima, Florestas e Agricultura e diretor de Sustentabilidade da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (Abiec); Daniel Azeredo, procurador da República e secretário de Cooperação Internacional adjunto da Procuradoria Geral da República (PGR); e Tarcila Gomes, promotora de Justiça e 1a. Vice-Presidente da Associação Brasileira dos Membros do Ministério Público de Meio Ambiente (Abrampa), e mediação de Tasso Azevedo, coordenador Geral do MapBiomas.

Os especialistas ressaltaram a relevância do uso de dados geoespaciais na fiscalização e combate ao desmatamento, na verificação dos indícios de ilegalidade e na promoção da rastreabilidade de produtos agropecuários para valorizar aqueles que não estão vinculados a atividades ilegais. 

“O resultado que está sendo lançado hoje é fruto do trabalho de todos que estão aqui, todas as organizações, sociedade civil organizada, Ministério Público e governos dos estados”, afirmou Lima.

Destaques do RAD2024

O RAD é um produto do MapBiomas Alert, iniciativa criada em 2018 pelo MapBiomas, que faz a validação e o refinamento de alertas de desmatamento com imagens de satélite de alta resolução. Em uma só plataforma, reúne os alertas provenientes de diversos sistemas de detecção para todos os biomas do Brasil, faz cruzamentos com dados territoriais relevantes e disponibiliza laudos prontos e detalhados para cada evento de desmatamento, de forma aberta e gratuita. A iniciativa MapBiomas Alerta publica toda e qualquer perda de vegetação nativa, sem julgamento sobre legalidade, regularidade ou responsabilidade em relação à supressão da vegetação.

Uma vez ao ano, é gerado o relatório anual, o RAD. “A ideia do RAD é ser um espaço para consolidar e entender o conjunto dos alertas”, afirmou Tasso Azevedo, coordenador geral do MapBiomas, durante a segunda parte do evento de lançamento.

“O relatório reúne dados validados do período de 2019 a 2024, para todos os biomas. E traz um panorama geral, que começamos a fazer a partir de 2022, das ações que são feitas pelos diversos órgãos em relação ao desmatamento”, completou.

Além de números sobre os alertas e áreas desmatadas no país em 2024 e também ao longo dos últimos seis anos, o RAD2024 traz informações sobre em quais biomas, regiões e estados houve maior desmatamento, os fatores de pressão e a situação em Terras Indígenas e em Unidades de Conservação. Também apresenta uma análise sobre a distribuição de crédito rural em propriedades com indícios de irregularidades e cruzamento de informações sobre imóveis com Cadastro Ambiental Rural (CAR) e áreas que foram desmatadas. 

Veja alguns dos dados consolidados no RAD2024:

  • Nos últimos seis anos, de 2019 a 2024, o país perdeu 9,8 milhões de hectares de cobertura vegetal nativa, área que equivale à do estado do Pernambuco ou da Coreia do Sul. 
  • A área total desmatada no Brasil em 2024 foi de 1.242.079 hectares, uma redução de 32,4% em relação ao ano anterior, com queda registrada em todos os biomas do país. 
  • A única exceção foi a Mata Atlântica, que se manteve estável. Isso se deve a eventos extremos – enchentes e deslizamentos de terra – ocorridos principalmente no estado do Rio Grande do Sul, mas também no Rio de Janeiro. Sem eles, teria havido redução de 20% no desmatamento.  
  • O bioma que mais sofreu perda de vegetação nativa foi o Cerrado: 652.197 hectares, que representaram mais da metade (52,5%) do total desmatado no Brasil em 2024. 
  • Foram perdidos 57.930 hectares de vegetação nativa dentro de Unidades de Conservação (UCs) em 2024 – uma redução de 42,5% em relação a 2023. 

Após a apresentação de Tasso Azevedo, representantes das equipes técnicas de cada bioma detalharam mais os números do RAD para Amazônia, Cerrado, Pantanal, Caatinga, Mata Atlântica e Pampa.  

Confira o relatório completo e outras informações na página especial do RAD2024.

Lei antidesmatamento da União Europeia 

A última parte do lançamento do RAD2024 contou com um debate sobre a lei antidesmatamento da União Europeia, a EUDR (Regulamento Europeu sobre Produtos Livres de Desmatamento). Os painelistas destacaram que a transparência e qualidade de dados são fundamentais para que países e empresas exportadores de commodities possam demonstrar a adequação de suas cadeias a essa demanda.

O painel teve a participação de Ana Paula Valdiones, do Instituto Centro de Vida (ICV); Claudio Almeida, coordenador do Programa de Monitoramento BiomasBR, do Inpe; André Sant’Anna, gerente no Departamento de Sustentabilidade do BNDES; Isabella Freire, colíder da Força-Tarefa Rastreabilidade e Transparência da Coalizão Brasil e diretora executiva na Proforest América Latina; e Eduardo Topázio, diretor de Fiscalização no Instituto do Meio Ambiente e Recursos Hídricos da Bahia (Inema). 

Pela EUDR, produtos vinculados a desmatamento ocorrido após dezembro de 2020 não podem ser comercializados na Europa. Inicialmente, a lei foca em sete commodities e produtos deles derivados, incluindo café, gado bovino (carne e couro), soja e cacau, e passará a ser aplicada para produtos de empresas de grande e médio portes no final de 2025, e para pequenas e microempresas a partir de junho de 2026. 

De acordo com Ana Paula Valdiones, ainda há muito desmatamento que não se sabe se foi feito legalmente ou se traz alguma irregularidade. Daí a importância de maior transparência com relação às Autorizações de Supressão de Vegetação (ASVs) e dados de fiscalização e embargo. “Quanto mais transparente as ações, maior será a governança e o sinal que mandamos [para fora], o que pode influenciar na classificação de risco do Brasil”, afirmou. 

Claudio Almeida também ressaltou a importância da transparência dos dados para atender a demandas como a da EUDR via poder público. “Não se faz política pública eficiente sem acesso a dados públicos. Estes têm que ser transparentes e ter qualidade”, afirmou. “É importante que o país tenha a capacidade de gerar informações, e o MapBiomas tem o papel de ser esse instrumento”, completou. 

Um desafio para que as empresas possam fazer due dilligence é saber qual base de dados usar, na opinião de Isabella Freire. “É importante para garantir que não haverá risco, lá na frente, de o produto ser barrado no porto [de entrada no país comprador]”, afirmou. 

Assista à íntegra do lançamento do RAD2024 here