Bahia quintuplicou área para cultivo em 36 anos e Piauí triplicou área agrícola desde o final dos anos 1990; Tocantins e Maranhão são os estados que mais perderam vegetação nativa na última década.

O Matopiba, região de Cerrado que abrange os estados de Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia, mais que dobrou a área destinada à agropecuária nos últimos 36 anos. Em um aumento de 258%, passou de 5,6 milhões de hectares para 14,6 milhões de hectares destinados à atividade, área superior a do estado de Amapá. Os dados são da nova coleção da iniciativa MapBiomas e foram apresentados em evento específico para o bioma na sexta-feira (10), no canal do MapBiomas Brasil no YouTube.

Além dos números, as imagens de satélite mostram os impactos da intensificação do desmatamento e da atividade agropecuária. Campeã no aumento relativo da área de agricultura no Cerrado, a Bahia quintuplicou esse tipo de uso do solo de 1985 a 2020. Já o Piauí triplicou a área agrícola no trecho do bioma a partir do final da década de 1990. Tocantins sofreu a maior perda de vegetação nativa do Cerrado nos últimos dez anos (1,11 milhão de hectares), seguido de Maranhão (890 mil ha).

 “Os dados mostram claramente que há um processo acelerado de conversão de áreas naturais no Matopiba, tal como foi observado anteriormente em outros estados do Cerrado”, explica a coordenadora científica do MapBiomas, Julia Shimbo, pesquisadora do IPAM (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia). Se considerada a perda total de vegetação nativa desde 1985, Mato Grosso é o campeão, com 6,8 milhões de ha, seguido por Goiás, com 4 milhões ha, e Mato Grosso do Sul, com 3,4 milhões de ha.

O Cerrado é o segundo maior bioma do Brasil, com 198 milhões de hectares, e apresenta diferentes tipos de vegetação nativa. Como hotspot de biodiversidade, é a savana mais biodiversa do mundo e está sob elevado grau de ameaça. Quase metade já foi desmatada: 54,5% de seu território ainda é coberto por vegetação nativa, sendo que 44% encontra-se justamente no Matopiba.

O que sobrou no Cerrado está distribuído em diferentes formações. As principais são savana (30,3%), floresta (14,3%) e formação campestre (7,3%).

Bioma em crise

De 1985 a 2020 o Cerrado perdeu 19,8% de sua vegetação nativa, ou 26,5 milhões de ha, que equivalem a uma área maior que a do Piauí. A expansão da agropecuária no bioma no mesmo período é quase complementar: foram 26,2 milhões de hectares destinados à atividade. Atualmente, a agropecuária ocupa 44,2% do Cerrado.

Uma das novidades da Coleção 6 do MapBiomas é a inclusão da nova classe de áreas úmidas do Cerrado, como campos úmidos, veredas, savanas parques e brejos, que representam 2,5% dos remanescentes. Também esses ambientes têm sofrido transformações: foram 582 mil hectares suprimidos desde 1985, ou 10,3% de perda das áreas alagadas. Dessa área convertida, 61% foram destinados à agropecuária, especialmente pastagem, e 32% viraram outro tipo de vegetação, como campo, savana e até floresta.

Sobre o MapBiomas

Iniciativa multi-institucional que processa imagens de satélites com inteligência artificial e tecnologia de alta resolução em uma rede colaborativa de especialistas, universidades, ONGs, instituições e empresas de tecnologia para a criação de séries históricas e mapeamentos de uso e cobertura da terra no Brasil. O IPAM é a instituição responsável pelo mapeamento da vegetação nativa no bioma Cerrado dentro da rede MapBiomas.

Acesse os principais destaques da Coleção 6 do bioma Cerrado

Baixe os infográficos aqui:

Saiba como foi a apresentação dos dados do Cerrado: