Apresentamos uma síntese dos métodos e conceitos do Módulo beta de Degradação disponível na plataforma do MapBiomas Brasil. Para obter mais detalhes metodológicos, acesse o documento ATBD (Documento Base da Teoria do Algoritmo).
Esse módulo permite a análise de vetores de degradação da vegetação nativa nos biomas brasileiros desde 1986 a 2021. Os vetores de degradação foram calculados a partir dos mapas anuais de uso/cobertura da terra da Coleção 8 do MapBiomas Brasil e dos mapas anuais de cicatrizes de incêndio da Coleção 2 do MapBiomas Fogo.
Os vetores de degradação considerados nesta primeira versão do módulo incluem: o tamanho e o isolamento dos fragmentos de vegetação nativa, a sua área de borda, a frequência do fogo e o tempo desde a última queimada, além da idade da vegetação secundária.
Os efeitos de cada um desses vetores podem ser analisados isoladamente, ou em conjunto, combinando parâmetros de cada vetor. Esta abordagem permite análises multicritério e para diferentes territórios (ex. biomas, país, estados, municípios, bacias hidrográficas e áreas protegidas).
Devido às particularidades de cada região, a plataforma permite que os usuários tenham opção de escolher os intervalos que representam a susceptibilidade à degradação na área desejada. Para área de borda, estão disponíveis na plataforma diversas opções de classes de tamanho (menor ou igual a 30m a menor ou igual a 1000m). Já o tamanho dos fragmentos pode variar entre áreas iguais ou menores a 3 hectares até áreas iguais ou menores a 75 hectares. No isolamento é possível definir os parâmetros de distância (mais de 5km a mais de 25km), tamanho do fragmento fonte (maiores de 100m a maiores de 1000m) e tamanho do fragmento alvo (menores de 25ha a menores de 100ha). A idade da vegetação secundária, frequência do fogo e tempo desde o último fogo podem variar de 1 a 37 anos (Quadro 1).
Quadro 1: Vetores de degradação da vegetação nativa no Brasil no Módulo de Degradação do MapBiomas.
Vetor de degradação | Descrição | Classes | Unidade | |
Fragmentação | Área de borda | área de vegetação nativa afetada pelo contato com áreas antrópicas | ≤30, ≤60, ≤90, ≤120, ≤150, ≤300, ≤600, ≤1000 | m |
Tamanho do fragmento | área de um fragmento de vegetação nativa na paisagem | ≤3, ≤5, ≤10, ≤25, ≤50, ≤75 | ha | |
Isolamento | relação da distância entre fragmentos fonte de vegetação nativa e fragmentos alvo | distância: ≥5, ≥10, ≥20 | km | |
fragmento fonte: ≥100, ≥500, ≥1000 | ha | |||
fragmento alvo: ≤25, ≤50, ≤100 | ha | |||
Fogo | Frequência do fogo | quantidade de vezes que a área foi queimada no período (1986 a 2021) | 1 a 37 | vezes |
Tempo desde o último fogo | idade que ocorreu o evento de fogo pela última vez | 1 a 37 | anos | |
Vegetação Secundária | Idade da vegetação secundária | tempo que uma área desmatada voltou a ser considerada vegetação nativa | 1 a 37 | anos |
VETORES DE DEGRADAÇÃO
Área de borda: área de vegetação nativa afetada pelo contato com áreas antrópicas,
Estas áreas estão mais expostas aos efeitos negativos dos ventos, da radiação solar e da deriva de agrotóxicos aplicados nas lavouras adjacentes. Além disso, podem sofrer taxas de predação de animais mais elevadas e são mais suscetíveis aos incêndios induzidos por humanos (Figura 1).
Figura 1 Esquema conceitual sobre os efeitos de borda sobre a vegetação nativa.
Tamanho do fragmento: área de um fragmento de vegetação nativa na paisagem.
O tamanho dos fragmentos de vegetação nativa tem relação direta com a quantidade e variedade da fauna e da flora presente. Quanto menor o fragmento, maior o risco de extinções locais de espécies, menor a probabilidade de recolonização por indivíduos vindos de outros fragmentos e maior é a proporção dos efeitos de borda (Figura 2).
Figura 2 Esquema conceitual sobre o efeito da redução do tamanho dos fragmentos de vegetação nativa sobre a biodiversidade.
Isolamento: relação da distância entre fragmentos fonte de vegetação nativa e os fragmentos alvo.
A definição de quais fragmentos são considerados “isolados” é estabelecida aqui pela combinação de três fatores que podem ser selecionados pelo usuário:
- Tamanho dos fragmentos fonte (origem): área mínima dos fragmentos de vegetação nativa que servem como origem de indivíduos para ocupar outros fragmentos vizinhos (alvo).
As opções de intervalos de tamanho são as seguintes: ≥100 ha, ≥ 500 ha ou ≥ 1000 ha.
Quanto maior o valor, menor a quantidade de fragmentos fonte na paisagem, tendo como consequência uma maior quantidade de fragmentos considerados isolados.
- Distância: distância, em quilômetros, a partir da qual os indivíduos dos fragmentos fonte não conseguem chegar aos fragmentos alvo.
As opções de distâncias são as seguintes: ≥ 5 km, ≥ 10 km ou ≥ 20 km
Quanto maior a distância, menor a quantidade de fragmentos considerados isolados na paisagem.
- Tamanho dos fragmentos alvo: área máxima que define quais fragmentos de vegetação nativa que recebem indivíduos vindos dos fragmentos fonte.
As opções de intervalos de tamanho são as seguintes: ≤ 25 ha, ≤ 50 ha ou ≤ 100 ha.
Quanto maior o valor, maior a quantidade de fragmentos alvo considerados isolados na paisagem (Figuras 3 e 4).
O isolamento de fragmentos de vegetação nativa traz consequências negativas para a biodiversidade, impedindo que fragmentos isolados recebam novos indivíduos ou espécies colonizadoras dos fragmentos fonte (origem).
Figura 3 Esquema conceitual sobre o efeito da distância na definição de fragmentos próximos ou isolados do fragmento fonte.
Figura 4 Esquema conceitual sobre o cenário com maior grau de isolamento de fragmentos na paisagem disponível no módulo de degradação.
Frequência do fogo: quantidade de vezes que a área foi queimada no período (1986 a 2021).
Tempo desde o último fogo: idade (em anos) que ocorreu o evento de fogo pela última vez.
O fogo na vegetação nativa pode ou não representar um fator de degradação. Isso porque alguns tipos de vegetação natural, como campos e savanas, possuem uma história evolutiva de adaptação ao fogo. Em contraste, os ecossistemas florestais não adaptados ao fogo são mais suscetíveis à degradação causada por incêndios. Os incêndios florestais nessas áreas, resultam em perda de biodiversidade, degradação do solo e em alteração na estrutura da vegetação. Por outro lado, a exclusão do fogo em campos e savanas pode levar ao adensamento lenhoso.
Figura 5 Esquema conceitual sobre os efeitos da frequência do fogo e do tempo do último fogo sobre a vegetação nativa.
Idade da vegetação secundária: tempo (em anos), que uma área desmatada voltou a ser considerada vegetação nativa.
A vegetação secundária é a área que foi desmatada anteriormente e que está em processo de regeneração da vegetação nativa. Com o passar dos anos, a vegetação secundária apresenta maior número de espécies, maior quantidade de interações biológicas e aumento da complexidade estrutural do habitat. Logo, idades mais avançadas da vegetação secundária estão menos suscetíveis à degradação (Figura 6).
Figura 6 Esquema conceitual sobre a relação entre a idade da vegetação secundária e a suscetibilidade à degradação.