Mais de 500.000 hectares de floresta nativa, entre Valparaíso e Los Lagos, foram perdidos no Centro-Sul do país nos últimos 20 anos. Esse resultado, parte do lançamento da Coleção 1 de mapas anuais de cobertura e uso da terra (2000-2022), foi obtido a partir da análise destes mapas gratuitos e públicos neste período na plataforma MapBiomas Chile (chile.mapbiomas.org).

A plataforma oferece uma visão inédita da evolução do território chileno num contexto de alterações climáticas e seca extrema, pois reúne informações sobre áreas úmidas e campestres, gelo e glaciares, cobertura florestal, plantações florestais, atividades agropecuárias, áreas urbanas, entre outros.

A iniciativa é uma colaboração com especialistas da Universidade do Chile, da Universidade de Concepción, da Universidade de Magallanes, da Universidade de La Frontera e do WWF Chile. No projeto, foram usadas imagens do satélite Landsat, processamento em nuvem e classificadores de inteligência artificial operados a partir da plataforma Google Earth Engine.

Os dados, extraídos da Coleção 1, “MapBiomas Chile: Revelando a dinâmica de uma paisagem em mudança – Lançamento da Coleção 1 de mapas anuais de ocupação e uso da terra(2000-2022)“, revelam um retrato do Chile no qual: 

  • A floresta representa cerca de 22% da área total do país, enquanto as  áreas de solo exposto e desérticas representam 24%. 
  • Em nível nacional, houve uma perda líquida de 120 mil hectares de floresta nativa nas últimas duas décadas.
  • A extensão das plantações florestais no Chile é de 3,1 milhões de hectares, o equivalente a 39% de expansão.
  • Os usos agrícola e pecuário ocupam 4,8 Mha, o equivalente ao tamanho da região chilena de Los Lagos.
  • Entre 2000 e 2022, a expansão urbana aumentou em 33%, o equivalente a 127 mil hectares.
  • A Patagônia abriga 80% das geleiras do país e, nas últimas duas décadas, diminuiu 10% ou aproximadamente 410 mil hectares.

Mudanças importantes

No caso do Centro-Sul, a alteração mais significativa é o declínio de espécies nativas do clima mediterrâneo. Desde 2000, perdeu-se cerca de 8% do território florestal (500 mil hectares), apesar de a nível nacional a cobertura florestal ser mais de 16,7 milhões de hectares. No entanto, esse contexto contrasta com a situação na Patagônia, nas regiões de Aysén e Magallanes, onde os resultados indicam um aumento de 450 mil hectares, o que compensa a perda na região Centro-Sul do país.

As zonas de solos expostos e desérticos representam 24% do país e se concentram na zona norte, equivalente a mais da metade deste território (56%). Outro resultado destacado é a situação do gelo e dos glaciares, com uma perda líquida de cerca de 10% desde 2000 até 2022 – algo em torno de 410 mil hectares. Aproximadamente, 80% dos glaciares estão concentrados na região da Patagônia.

Foram registradas ainda as seguintes mudanças:  expansão das plantações florestais em 39%, cobrindo cerca de 3,1 Mha; os usos agrícolas e pecuários ocupando 4,8 Mha do país; e aumento da expansão urbana em 33%, o equivalente a 127 mil hectares, entre 2000 e 2022.

O professor Jaime Hernández, coordenador-geral do MapBiomas Chile, destaca a quantidade de dados que são gerados e que antes não estavam disponíveis para as pessoas. “Os mapas anuais de ocupação e uso da terra permitem avaliar a evolução do uso humano do território. É um insumo muito importante para que os tomadores de decisão tenham um suporte técnico robusto sobre as consequências que geram as políticas de gestão de nossos recursos naturais e assentamentos urbanos ou, além disso, a ausência deles”, diz o professor.

Por sua vez, a investigadora da iniciativa MapBiomas Chile, Valentina González, destaca a vantagem de a informação ser facilmente acessível, gratuita e aberta a qualquer pessoa interessada. Além disso, González salienta que “a informação pode ser utilizada por todos, pois o acesso é simples através do site e pode ser utilizada para múltiplas finalidades, para avaliar as alterações na paisagem, para monitorar a ocupação do solo e para tomar decisões sobre o território, entre outros.”

“O MapBiomas tem uma lógica de aprimoramento contínuo. Isso significa que cada coleção melhora a precisão e a exatidão dos dados. Em coleções futuras, aumentaremos o número de classes a serem incluídas nos mapas e adicionaremos módulos para tópicos específicos relevantes para o país, como o monitoramento de incêndios florestais e corpos d’água, com frequência anual e mensal”, conclui o professor Hernández.

Sobre o MapBiomas Chile – O MapBiomas Chile é formado por especialistas da Universidade de Chile, Universidade de Concepción, Universidade de La Frontera, Universidade de Magallanes e WWF Chile. A rede colaborativa do MapBiomas foi criada em 2015 no Brasil com instituições locais e se expandiu para os países da América do Sul e Indonésia. Tanto os dados gerados como os códigos adaptados para o seu processamento e metodologia são de acesso aberto e gratuito, oferecendo uma ferramenta independente e contribuindo para a conservação da natureza, o planeamento territorial, o monitoramento dos recursos hídricos e a agricultura, entre outros setores (chile.mapbiomas.org).