Dados do MapBiomas Peru entre 1985 e 2022 mostram também que o país perdeu 4,1 milhões de hectares de vegetação natural

“Nas últimas quatro décadas, o Peru passou por mudanças drásticas em seu território que afetaram os ecossistemas naturais e os meios de subsistência das populações urbanas e rurais”, alerta Renzo Piana, diretor do Instituto del Bien Común, organização que lidera o MapBiomas Peru, uma iniciativa de monitoramento de mudanças no uso da terra e na superfície da água que, em 15 de fevereiro, divulgou dados atualizados até 2022, incluindo novas classes, como o cultivo de dendê, pântanos salgados e aquicultura.

Como exemplo dramático das transformações que estão ocorrendo na cobertura natural da terra no Peru entre 1985 e 2022, Piana cita a perda de 94,8 mil hectares da superfície das geleiras, o equivalente a 48% de sua extensão em 1985, devido às mudanças climáticas. “Essa redução das geleiras afeta principalmente o fornecimento de recursos hídricos nas comunidades dos altos Andes”, alerta Piana.

O mapeamento do MapBiomas Peru sobre as mudanças no uso da terra nos últimos 38 anos também revela a perda de 4,1 milhões de hectares de vegetação natural (4% de sua extensão inicial), incluindo ecossistemas de florestas, arbustos, pastagens, pastos e manguezais. Essas mudanças na cobertura natural estão associadas à expansão das atividades humanas, como agricultura, mineração, aquicultura e infraestrutura, que até 2022 aumentaram em 4,2 milhões de hectares.

“O MapBiomas Peru nos permite calcular a taxa de perda de florestas no território peruano. As informações obtidas podem ajudar os governos regionais a entender as mudanças que estão ocorrendo em seus territórios, por exemplo, em termos de cobertura e uso da terra e da área de superfície dos corpos d’água”, diz Piana. Ele acrescenta que essa iniciativa do IBC, em colaboração com as redes MapBiomas e RAISG, também contribui para o planejamento territorial, a conservação das florestas e a prevenção de desastres.

Outras descobertas do MapBiomas Peru revelam que a Amazônia peruana perdeu 2,64 milhões de hectares de vegetação natural nos últimos 38 anos, o equivalente a 4%. A floresta seca equatorial, um bioma vital para a população da costa norte do país, registrou uma perda de 5% de sua extensão no mesmo período.

O monitoramento também alerta para as transformações que estão ocorrendo nas áreas costeiras, apontando para a perda de 617 ha de manguezais entre 1985 e 2022. Além disso, foi detectado um aumento de 5.000 hectares na área dedicada à aquicultura no período analisado.

Como parte dos benefícios para a sociedade, os manguezais fornecem alimentos e recursos, ajudam a filtrar a água para melhorar a qualidade da água, protegem o habitat da biodiversidade costeira e, acima de tudo, reduzem a quantidade de carbono na atmosfera, combatendo assim as mudanças climáticas.

Peru: acelerando as mudanças em um país megadiverso

Destaca-se a expansão da atividade de mineração no território nacional, com um aumento de 4.315% em 38 anos (de 3,8 mil para 169,3 mil ha), com uma aceleração acentuada entre 2009 e 2022. Madre de Dios é o departamento com a maior área de mineração (82,9 mil hectares, representando quase a metade da área de mineração do país), seguido por Ucayali (59,2 mil hectares). Observa-se que, na costa e nos Andes, 35% da área usada para mineração está localizada em comunidades camponesas.

“A cada edição anual procuramos oferecer aos nossos usuários informações novas e gratuitas. Nesta ocasião, nos propusemos o desafio de incluir novos tipos de uso, como o cultivo de dendê, pântanos salgados e aquicultura, e ajustar a análise de outros, como plantações florestais”, diz Andrea Bravo, gerente técnica de cobertura e uso da terra do MapBiomas Peru.

A análise dessa categoria mostra um aumento de 115.000 ha de cultivo de dendê no país, com um crescimento exponencial desde 2007, sendo Ucayali o departamento com a maior extensão dessa cultura (58,8 mil ha), seguido por San Martín (46,4 mil ha), Loreto (16,3 mil ha) e Huánuco (4,7 mil ha).

No bioma dos Andes, há um aumento nas plantações florestais (124%). Essas plantações estão substituindo a cobertura natural (pastagem/herbácea) e as áreas agrícolas. Embora Ancash tenha a maior área de plantações florestais (24,9 mil ha), Huancavelica apresenta o maior aumento (9,5 vezes) no período estudado, com uma área de 4,5 mil hectares.

Redução de geleiras e corpos d’água

“A análise do MapBiomas Peru revela impactos claros das mudanças climáticas, como a perda de 94,5 mil hectares de área de geleiras, o que representa 48%, com possíveis impactos no abastecimento de água em vários biomas do país e, nos Andes, transbordamento de lagos e lagoas devido ao derretimento das geleiras, com danos a residências, infraestrutura e plantações”, diz Nicole Moreno, gerente técnica de água e zonas úmidas do MapBiomas Peru.

Moreno acrescenta que o MapBiomas Água registra 1,65 milhão de hectares de água para o Peru, revelando uma redução de 12% na área de superfície de água em comparação com a média histórica para o período de 2000 a 2022. “Essa redução é particularmente alarmante, pois os biomas com a menor área de superfície de água, como a Floresta Seca Equatorial e o Deserto Costeiro, são os mais afetados por fenômenos naturais intensos e/ou atividades antrópicas”, diz ele.

O MapBiomas Água contém mapeamentos detalhados da superfície da água em uma série histórica de mais de vinte anos, o que permite compreender a mudança nos corpos d’água, identificando padrões sazonais. Moreno destaca o valor dessas informações para o gerenciamento da água e a proteção dos ecossistemas aquáticos.