Qual o potencial de recomposição de áreas degradadas ou alteradas no Brasil? Para responder essa pergunta, a rede MapBiomas reuniu as bases de dados disponíveis no país e fez a sobreposição sobre os mais recentes mapas de cobertura e uso da terra no Brasil. O resultado é uma plataforma para visualização e monitoramento de áreas com compromisso ou obrigação de recuperação da vegetação nativa que fica disponível gratuitamente na internet a partir do dia 23 de outubro. O objetivo é auxiliar no monitoramento da dinâmica da cobertura vegetal em áreas com compromisso ou obrigação de recuperação ambiental, incluindo áreas embargadas por desmatamento e também iniciativas voluntárias de recuperação. 

“O monitor da recuperação atende a uma demanda de diversos usuários, reunindo pela primeira vez em um único sistema as áreas com vários tipos de compromisso de restauração,  permitindo a caracterização da situação e potencial da recuperação da vegetação nativa em nível nacional ou estadual, mas também gerando um relatório detalhado sobre cada área cadastrada. O monitor aumenta a demanda por dados públicos organizados para informar a sociedade”, explica Marcos Rosa, coordenador técnico do MapBiomas. 

Em sua primeira versão, o Monitor da Recuperação avalia áreas provenientes de três fontes principais: embargos estaduais e federais, motivados por intervenção na cobertura vegetal; dados do Observatório da Restauração (OR) cadastrados como de acesso público; e do Sistema Informatizado de Apoio à Restauração Ecológica (SARE), com projetos de restauração ecológica no estado de São Paulo. Os embargos federais e estaduais foram obtidos a partir de dados do IBAMA, ICMBio, Instituto de Proteção Ambiental do Amazonas (IPAAM) e das secretarias de meio ambiente (SEMA) dos estados de Amazonas, Goiás, Mato Grosso, Pará e Piauí. 

No total, as áreas cadastradas na plataforma somam 6,9 milhões de hectares, considerando o período de 2000 a 2025. Essas áreas com compromisso ou obrigação de recuperação da vegetação nativa são provenientes, em sua maioria, de embargos federais e estaduais. O IBAMA é a principal fonte, contribuindo com 64,8% do total cadastrado na plataforma, ou 4,5 milhões de hectares.  

Existem milhões de hectares de áreas com obrigação ou compromisso de serem restauradas com vegetação nativa, entender se essas obrigações e compromissos estão sendo cumpridos é fundamental para acelerar o processo de restauração dos biomas brasileiros. Essa é a proposta do Monitor da Recuperação”, segundo Tasso Azevedo, coordenador geral do MapBiomas.

Essa base de dados permitiu apurar que 80% das áreas com compromisso ou obrigação de recuperação encontram-se no bioma Amazônia e 12,1% no bioma Cerrado. O ano com maior quantidade de polígonos cadastrados foi 2024, principalmente devido ao aumento observado no Cerrado. Já o ano com mais áreas com compromisso ou obrigação de recuperação foi 2023. Mais da metade (57,8%) das áreas totais com compromisso de recuperação estão localizadas no Pará (37,8%) e no Mato Grosso (20%), seguidos pelo Amazonas, com 16,5%.

Do total das áreas cadastradas na plataforma, cerca de 23% apresentam compatibilidade com padrão de recuperação, enquanto cerca de 11% são áreas não compatíveis com o padrão de recuperação. “As demais áreas foram consideradas inconclusivas, por serem compromissos recentes ou onde os indicadores não conseguiram distinguir um padrão na dinâmica da vegetação. Reduzir as áreas inconclusivas será um dos principais objetivos para próximas atualizações do monitor”, explica Paulo Teixeira, pesquisador da equipe do Monitor.

Para chegar a esses números, os pesquisadores do MapBiomas desenvolveram um método de categorização de áreas (polígonos) com compatibilidade de processo de recuperação ambiental no Brasil. Também definiram como recuperação o processo de recomposição da vegetação nativa de áreas degradadas ou alteradas, para que voltem a ser funcionais, sem necessariamente retornar às suas condições originais. As  áreas elegíveis para a plataforma são aquelas que têm compromisso de recuperação, seja ele voluntário ou compulsório. 

Os pesquisadores usaram os mapas anuais de cobertura e uso da terra (MapBiomas Coleção 10), comparando a classe de cobertura e uso da terra entre o ano do compromisso e o ano mapeado mais recente (2024), identificando o tipo de mudança dentro dos limites de cada área identificada (polígonos). Também foi feito o cálculo da diferença do vigor da vegetação, a partir de um índice de vegetação extraído de imagens dos satélites Landsat disponíveis desde 2000.

O processo de desmatamento causa uma queda brusca no valor do índice de vegetação. Já a recuperação é monitorada observando-se a ascensão gradual desse índice ao longo do tempo, refletindo o aumento da área foliar e do vigor da vegetação, principalmente em fitofisionomias florestais, servindo de indicativo de que a área pode estar recuperando”, explica Kenia Mourão, coordenadora do Monitor da Recuperação e da equipe da Agricultura no MapBiomas.