Novos dados do MapBiomas mostram também como a soja deixou de ser um dos principais vetores de desmatamento depois da Moratória

15 de setembro de 2025

A Amazônia é o maior bioma do país. Com 421 milhões de hectares, ocupa quase metade (49,5%) do território brasileiro. Entre 1985 e 2024 foram perdidos 52 milhões de hectares (-13%) de área de vegetação nativa. É o que mostram os mais recentes dados sobre a Amazônia da Coleção 10 do MapBiomas  de mapas anuais de cobertura e uso da terra do Brasil. O levantamento, feito a partir da análise de imagens de satélite, mostra que essa supressão incidiu principalmente sobre formações florestais, que perderam quase 50 milhões de hectares (49,1 milhões) de área nos últimos 40 anos.  Em 2024, último ano da série histórica do MapBiomas, a vegetação nativa cobria 81,9% do bioma; 15,3% são ocupados por uso antrópico. 

“A Amazônia brasileira está se aproximando da faixa de 20% a 25% prevista pela ciência como o possível ponto de não retorno do bioma, a partir do qual a floresta não consegue mais se sustentar”, diz Bruno Ferreira, do MapBiomas. “Já podemos perceber alguns dos impactos dessa perda de cobertura florestal, como nas áreas úmidas do bioma. Os mapas de cobertura e uso da terra na Amazônia mostram que ela está mais seca”, completa. Somando a superfície coberta com água, floresta alagável, campo alagável, apicum e mangues, houve uma retração de 2,6 milhões de hectares entre 1985 e 2024. Esses dados mostram que 8 dos 10 anos mais secos, incluindo a classe de superfície de água, foram registrados na última década. No ano passado, as áreas úmidas ocupavam 59,6 milhões de hectares.

As imagens de satélite também mostram como a antropização da Amazônia é recente: 83% da área antropizada no bioma ocorreu entre 1985 e 2024. Somando todos os usos antrópicos da terra, eles aumentaram 471% (+57 milhões de hectares) nas últimas quatro décadas. Nesse período, houve um avanço de 43,8 milhões de hectares de pastagem – o uso antrópico que mais se expandiu. As pastagens passaram de 12,3 milhões de hectares em 1985 para 56,1 milhões de hectares em 2024 – um crescimento de 355%.  Em termos percentuais, porém, a expansão mais expressiva foi da silvicultura, que passou de 3,2 mil hectares em 1985 para 352 mil hectares em 2024 – um aumento de mais de 110 vezes em 40 anos.  A área de agricultura, por sua vez, cresceu 44 vezes (4.321%), passando de 180 mil hectares (1985) para 7,9 milhões de hectares (2024). Nos últimos anos, a mineração vem ganhando relevância, passando de 26 mil hectares em 1985 para 444 mil hectares em 2024.

Três em cada quatro hectares convertidos para agricultura (74,4%) são ocupados por lavouras de soja, que tiveram expansão significativa na Amazônia. Elas ocupavam 5,9 milhões de hectares em 2024. A maior parte dessa área (4,3 milhões de hectares) foi convertida após 2008, data de assinatura da moratória da soja. Porém, de lá para cá, a conversão direta de formação florestal para soja reduziu em 68% (769 mil hectares). Após 2008, a soja cresceu principalmente em áreas já abertas de pastagem (+2,8 milhões de hectares, ou +1047%) e de agricultura (+1 milhão de hectares / +2708%).

Rondônia destaca-se como o estado de maior conversão de vegetação nativa em pastagens, que passaram de 7% de seu território, em 1985, para 37% em 2024. Rondônia é também o estado com menor proporção de vegetação nativa na Amazônia (60%), à frente de Mato Grosso (62%), Tocantins (65%) e Maranhão (67%). Rondônia também integra a região conhecida como AMACRO, que inclui também o Acre e o Amazonas.  Em 40 anos, 14% da perda líquida de vegetação nativa da Amazônia ocorreu nessa região. Nesse período, a área de pastagem aumentou 11 vezes na região: um ganho de 6,9 milhões de hectares.  A maior perda se deu na última década, entre 2015 e 2024: 2,7 milhões de hectares.  

Em 2024, 2% da vegetação nativa da Amazônia era secundária, ou seja, áreas que foram desmatadas anteriormente e que estão em processo de regeneração da vegetação nativa. No ano passado elas totalizaram 6,9 milhões de hectares no bioma. Esse tipo de vegetação não é a mais desmatada: em 2024, 88% do desmatamento na Amazônia aconteceu em áreas de vegetação primária; apenas 12% foram em vegetação secundária. 

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